Quando a Alma Viaja
Novamente, reuni 13 contos em um livro, desta vez para narrar histórias com destaque à viagem da alma das personagens. Em todos os contos, há personagens femininas: uma mulher com o rosto em um retrato, uma jovem artista apaixonada por raios e chuva, uma noiva e sua melhor amiga, uma bacharela em direito, uma mulher com grave escoliose, uma juíza, uma líder juvenil de cabelos ruivos, uma feminista, uma pianista ruiva, uma mulher num ato de amor carnal, uma mulher que se despede da pessoa amada, uma menina que encontra redenção na música, uma mulher em busca de reparação. A força feminina existe e situa-se, sobretudo, na alma. Uma alma que viaja no presente, ao passado ou ao futuro, ao paraíso ou ao inferno. Porque quando a alma viaja, o coração se inquieta.
“Parafraseando Cecília Meireles em seu poema Motivo, Eliete de Fátima Guarnieri não canta, mas conta porque o instante existe. Seus contos são pedaços de vida, instantes que pinçados se tornam algo mais impactante e significante.
Com o poder da concisão, tão buscado por todos os contadores de história que escolhem o mundo dos contos, Eliete nos convida a experienciar histórias. Sem perceber, somos transportados por essa magnífica contadora de causos para um outro tempo, outro espaço, em que nossa própria vida fica pausada, a respiração chega a parar, em suspense, enquanto aguardamos o desfecho de cada pedaço de vida que nos é apresentado.
São 13 contos, pequenos, rápidos de ler, quem imaginaria que poucas palavras distribuídas em poucas páginas poderiam ser tão impactantes?
Que seguiríamos pensando nas pessoas que perdemos talvez não pelas ruas de Veneza nem ouvindo Charles Aznavour, mas que certamente estão em uma fotografia perdida em algum lugar das nossas coisas?
Em dias de chuva, com dança ou sem traições, situações bizarras, escolhas que não se mostram as melhores? Assimetrias que não eram tão ruins assim? Encontros e despedidas? Erros e acertos? Em situações tão peculiares e ao mesmo tempo tão comuns que parecem possíveis de acontecer com qualquer um e com ninguém?
Histórias tão tristes e tão belas. Como um concerto para piano, uma composição sensível e tocante, que se inicia com um conto nostálgico e termina com outro tipo de nostalgia.
São contos que fazem realmente a alma viajar em muitos sentidos, que nos aproximam das pessoas ali retratadas e de outras versões de nós mesmos, aquelas que teriam feito escolhas diferentes, parecidas com aquelas da pianista, da bailarina, da moça que queira ficar mais bela.
Quem conta um conto, aumenta um ponto. Não Eliete, que domina como ninguém a arte de dizer apenas o necessário, de mostrar e encobrir e deixar o resto para a imaginação do leitor.
Depois de sentirmos nosso estômago gritar, convido todos a deixar sua alma viajar pelas próximas páginas. Será uma viagem só de ida. Mas vale cada segundo.”
Por Carolina Nabarro Munhoz Rossi, Juíza de Direito e Escritora
“Uma das mais belas e inquietantes características da alma é a sua incansável atividade. A alma é o princípio do movimento nos seres vivos. Portanto, nada mais próprio da alma do que viajar. Viaja a alma em suas memórias. Viaja em seus sonhos. Viaja em suas dores. Viaja em suas alegrias. Viaja em seu silêncio. Viaja em sua solidão. Viaja em seus encontros. Viaja para o passado e para o futuro. Para dentro de si e para bem longe. Viaja pela música. Viaja pelo vinho. Viaja no amor, mas também viaja sozinha.
Nesta admirável obra, a autora, Eliete de Fátima Guarnieri, consegue embarcar o leitor em treze incríveis viagens que vão do centro da alma, como em Apenas um rosto, ao extremo dela, como em Necrose. As faces da alma se revelam neste itinerário através das mais variadas emoções que cada conto suscita na alma. Nostalgia e alegria. Paixão e traição. Bizarrice e romance. Humor e dor. Inocência e pureza. Vanguarda e despedida. Angústia.
Eliete tem o dom da precisão gramatical, da genialidade literária e da sutileza psicológica tão necessárias para conduzirem a alma sem cansá-la com muitas palavras, nem abandoná-la pela ausência de sentido. Em sua primeira publicação, Quando o estômago grita, oferece ao leitor treze contos viscerais, os quais fazem com que sinta cada fibra do seu corpo. Nesta obra, a alma assume seu protagonismo. Faz-nos lembrar aquela genial autodescrição feita por Fiódor Dostoiévski:
“Chamam-me de psicólogo: não é verdade. Sou apenas realista no sentido mais elevado. Ou seja, retrato todas as profundezas da alma humana”.
Eliete traz, em cada um destes treze contos, um aguçado conhecimento da alma humana, enriquecido por sua vasta experiência acadêmica, profissional e de vida. De forma magistral, sabe conjugar o naturalismo descritivo com o realismo psicodinâmico; o domínio gramatical com o envolvimento emocional; a riqueza de vocabulário com a objetividade das sentenças; a criatividade e a veracidade. Enfim, uma obra que flui com a leveza da alma.
Quando a alma viaja é um itinerário capaz de guiar o espírito peregrino do leitor a uma vivência pendular: ora o conduz para dentro de si, em suas memórias mais íntimas; ora lança-o para fora, ao encontro da áspera realidade da vida humana. A cada conto, uma viagem. A cada viagem, uma experiência.
Quando a alma viaja não é um livro desencarnado da realidade, muito pelo contrário, é um livro vivo e vibrante, poético e rítmico, descritivo e reflexivo, como o espírito de sua autora. E não poderia ser diferente, já que sempre há uma formal semelhança entre autor e obra. Eliete, filha, irmã, esposa, mãe, magistrada, cidadã, pianista e escritora, de passaporte múltiplas vezes carimbado, e que convida o leitor viajante a deixar, momentaneamente, sua comodidade psíquica para maravilhar-se com a sinuosidade das vivências humanas.
Quando a alma viaja é, finalmente, um convite a não permitir que a alma se aprisione nos afazeres do mundo sem que retire dele a Beleza, a Arte e a Paixão. Memento vivere! – diriam os latinos. E, enquanto viver, viaje!”
Prefácio de “Quando a Alma Viaja”, por Adail David.
*Graduado em Filosofia pelo Center for Higher Studies Our Lady of Thornwood, NY – EUA e em Letras pela Universidade do Distrito Federal – UDF, Adail Pereira David concluiu seu mestrado em Filosofia na Universidade Pontifícia Regina Apostolorum de Roma – Itália. Amante das belas artes e das humanidades clássicas, aprofundou seu conhecimento em latim e grego na cidade de Salamanca, Espanha, onde teve contato com os grandes clássicos da literatura universal. Casado com a Dra. Joseane Brostel F. David, conta como principiais títulos de honra de seu currículo os dois filhos: João Miguel e Stella Maria. Professor no Instituto São Boaventura e no Seminário Redemptoris Mater desde 2014, atua, desde 2017, como psicoterapeuta e terapeuta de casais em Brasília.